Sentada na areia, calma, meditação
Um furacão parece se formar mais a frente, mas pode ser um pássaro
Pode ser um descompasso do…
Coração quase acelera,
Desiste quando lembra que em outras eras
De tanto bater, cansou, decretou proteção.
Nos lábios, qualquer canção
Levanta e anda como num versículo assertivo
Comando externo, reforço, não meu
Para ver o que, de fato era, talvez, não sei, o que apareceu
A água misturada ao sal encontra a pele e me recordo
Que estou seca tem um tempo
Mas o pé já está de molho e, por que não?
Um mergulho? Um convite no empuxo
Fôlego profundo e mente ativa
Mistério que se apresenta, curiosidade explícita
Encontros de suor e saliva
Permissões não concedidas
Nem precisa. Intimidade está servida
Saí do mar, sentir a brisa. O mar é calmo e a maresia inebria
Decide afundar de novo, um pouco, no raso, pés ainda fincados
Mas a areia já não é firme, não consolida, eu sei, agora é movediça
Desafia a mente a encontrar recordações extintas
Intuição alerta, instantes antes
Olhos encontram um céu que no seu fim, lá no fim mesmo
Nubla, acinzenta a vista e avisa
Bem vindo ainda é o mergulho, consciência distorcida
Com cautela se recorda que um dia, tentou nadar e afundou
Afogou, pés não encontraram o firmamento
Da terra que em si reside, da terra que não está mais a vista
Confiança permite os riscos
Palavras conduzem o pulo, o mergulho
Água morna parece conquista, anestesia
Mas esse mar silenciosamente se agita
Vai nadando e afundando, conhece a sequência
Movimentos súbitos, cadenciados
Esquece, por minutos, da topografia que não muda
Não há tempo para o retorno, o ar fica escasso
E mesmo convicta de que sabia nadar
Cairá na mesma sequência de fatos
A história é repetida
O roteiro de novo, se aplica
O canto da sereia recaiu em seus ouvidos e é sabido que enfeitiça
Parte sem despedida, para minha voz não tem resposta, só esquiva
Conquista da básica realidade, do que o deslumbre em fantasias
Compreensível, eu entendo
Culpe a conformação, o mundo
E apesar de palavras diferentes, no fim, o silêncio
Disse muito, mesmo mudo
Ondas gigantes e turbulentas
Engolem o corpo, engole água... salgada
Ondas quebram e me quebram, água é movimento afinal e
Recomponha-se! Retome, também, você, sua forma usual
Ressaca marítima arremessa corpos para areia
Levanta depois do tombo cada vez com mais destreza
Em terra de ar e terra, inundações não perduram
Mas as marcas fincam, sempre mais profundas
E nelas, quando bato olho, recordações nítidas, apesar do mal gosto
Me atravessou em tempestade, mas não, nunca fui porto
Confesso que dói o reforço que, de novo
Apesar de ter me parecido, mais uma vez,
Os gestos foram ensaios, que chegam aos mesmos acasos.
Desisto de tentar nadar.
Prefiro a segurança de ser aquário.