terça-feira, 6 de junho de 2023

não cabe onda em aquário

Sentada na areia, calma, meditação

Um furacão parece se formar mais a frente, mas pode ser um pássaro

Pode ser um descompasso do…

Coração quase acelera, 

Desiste quando lembra que em outras eras

De tanto bater, cansou, decretou proteção.  

Nos lábios, qualquer canção


Levanta e anda como num versículo assertivo

Comando externo, reforço, não meu

Para ver o que, de fato era, talvez, não sei, o que apareceu


A água misturada ao sal encontra a pele e me recordo

Que estou seca tem um tempo

Mas o pé já está de molho e, por que não?

Um mergulho? Um convite no empuxo 


Fôlego profundo e mente ativa

Mistério que se apresenta, curiosidade explícita

Encontros de suor e saliva

Permissões não concedidas

Nem precisa. Intimidade está servida


Saí do mar, sentir a brisa. O mar é calmo e a maresia inebria

Decide afundar de novo, um pouco, no raso, pés ainda fincados 

Mas a areia já não é firme, não consolida, eu sei, agora é movediça 


Desafia a mente a encontrar recordações extintas

Intuição alerta, instantes antes 

Olhos encontram um céu que no seu fim, lá no fim mesmo

Nubla, acinzenta a vista e avisa


Bem vindo ainda é o mergulho, consciência distorcida 

Com cautela se recorda que um dia, tentou nadar e afundou

Afogou, pés não encontraram o firmamento

Da terra que em si reside, da terra que não está mais a vista


Confiança permite os riscos

Palavras conduzem o pulo, o mergulho

Água morna parece conquista, anestesia

Mas esse mar silenciosamente se agita


Vai nadando e afundando, conhece a sequência

Movimentos súbitos, cadenciados

Esquece, por minutos, da topografia que não muda

Não há tempo para o retorno, o ar fica escasso

E mesmo convicta de que sabia nadar

Cairá na mesma sequência de fatos


A história é repetida

O roteiro de novo, se aplica

O canto da sereia recaiu em seus ouvidos e é sabido que enfeitiça

Parte sem despedida, para minha voz não tem resposta, só esquiva

Conquista da básica realidade, do que o deslumbre em fantasias


Compreensível, eu entendo

Culpe a conformação, o mundo

E apesar de palavras diferentes, no fim, o silêncio

Disse muito, mesmo mudo


Ondas gigantes e turbulentas

Engolem o corpo, engole água... salgada

Ondas quebram e me quebram, água é movimento afinal e 

Recomponha-se! Retome, também, você, sua forma usual


Ressaca marítima arremessa corpos para areia

Levanta depois do tombo cada vez com mais destreza

Em terra de ar e terra, inundações não perduram

Mas as marcas fincam, sempre mais profundas

E nelas, quando bato olho, recordações nítidas, apesar do mal gosto

Me atravessou em tempestade, mas não, nunca fui porto


Confesso que dói o reforço que, de novo

Apesar de ter me parecido, mais uma vez, 

Os gestos foram ensaios, que chegam aos mesmos acasos. 

Desisto de tentar nadar.

Prefiro a segurança de ser aquário.